Pesem todas as alterações sofridas na Península Ibérica a partir do século VI aC., coincidindo com o início da “2ª Idade do ferro”, os povos do território litoral a norte do Tejo continuaram a manter um intenso relacionamento comercial com o Mediterrâneo Oriental, nomeadamente com os cartagineses, por intermédio dos quais tiveram contacto com as primeiras importações itálicas.
Na sequência das Guerras Púnicas, que se iniciaram em 264 aC., opondo os cartagineses aos romanos pelo domínio comercial do mediterrâneo, os cartagineses, que então apenas tinham exercido um contrôle comercial sobre a Península Ibérica,, começam a ocupá-la territorialmente em 238 aC.
Em 210 aC., em plena “2ª Guerra Púnica” (218 – 201 aC. ), estavam estacionados dois exércitos Cartagineses no actual território português, um no Algarve e outro na foz do rio Tejo, este último comandado pelo famoso Asdrúbal, preparados par enfrentar o exército romano, comandado por Cneu Cipião, o qual, pela primeira vez, havia desembarcado na Península Ibérica em 218 aC., nas Ampúrias, a actual Catalunha. Desse confronto viria a resultar a expulsão definitiva dos cartagineses da península, com a tomada de Cádiz pelos romanos em 206 aC.
Contudo, a submissão da Ibéria aos romanos só se tornou definitiva em 19 aC., quer porque não fosse esse o plano inicial dos romanos, quer devido à forte oposição que tiveram de enfrentar por parte dos povos ibéricos .
Também o facto de, “nas férteis planícies da Costa Ocidental portuguesa (Estremadura e Ribatejo)” (ARRUDA, 1993, p.172), existirem vários núcleos urbanos (“oppidas”), que mantiveram relações comerciais amistosas com os romanos, com quem chegaram mesmo a estabelecer pactos de amizade, denota não ter havido desde logo qualquer plano de ocupação territorial pré delineado por parte dos romanos.
É só a partir de 194 aC. que os romanos iniciam a sua política expansionista na Ibéria, devido à necessidade de melhor defenderem o seu domínio sobre o Mediterrâneo.
Por essa altura, em 197 aC. dá-se a primeira divisão administrativa da Ibéria, com a criação da Província Ulterior (incluindo a actual Andaluzia) e Província Citerior ( grande parte do actual território espanhol e os Pirinéus), cujo governo foi entregue a dois pretores.
O actual território português não estava ainda incluído nos limites dessas províncias. Também os primeiros confrontos entre os romanos e as populações locais, os lusitanos, deram-se fora do nosso território, entre 194 A.C. e 178 A.C., ao longo do vale do Guadalquivir.
Só quando se dá a chamada “grande rebelião indígena”, entre 154 A.C. e 137 A.C., na qual os romanos tiveram de combater em duas frentes, uma contra os lusitanos, nas chamadas “Guerras Lusitanas”, comandados desde 147 A.C. por Viriato, outra contra os celtiberos, nas chamadas “Guerras Celtibéricas”, é que, talvez pela primeira vez, na frente lusitana, a guerra se estendeu à região portuguesa, ao Alentejo e ao Algarve.
O confronto entre romanos e lusitanos revela um profundo choque cultural: enquanto a “conquista, sustentada pelo imperialismo militar romano, procura terras para a cultura cerealífera, para a vinha e para a oliveira”, os lusitanos “desejavam manter extensos terrenos de pasto (...) necessários à transumância de inverno”. Tratava-se pois de um “choque entre uma economia agrícola latifundiária em expansão, com uma economia pastorial, comunitária, servida pela transumância” (RODRIGUES, ).
Durante este período, em 141 aC., Fábio Máximo Serviliano, o novo governador da província Ulterior, conquista para Roma parte das posições lusitanas na Andaluzia e ataca o Algarve e o Alentejo, chegando mesmo a atravessar o Tejo, talvez perto da região de Torres Vedras.
Conquistando várias cidades do sudoeste peninsular, os romanos obrigaram Viriato a aceitar a paz , interrompendo assim as “Guerras Lusitanas”.
Essa situação não implicava ainda uma ocupação permanente do Sul de Portugal pelo exército romano.
O novo governador de província, Servilio Cipião, rompeu a paz com os lusitanos em 139 aC., os quais, após o assassinato de Viriato, foram derrotados, combatendo também aquele governador os Galaicos e os Vetãos.
Em 138 aC., o governo da Ulterior foi entregue a Décimo Júnio Bruto e, desencadeando uma guerra contra os galaicos, fortifica Olisipo (Lisboa) e usa Moron (no distrito de Santarém), como base para as suas operações militares. Contudo, as “campanhas de Décimo Júnio Bruto não haviam conduzido, aparentemente, a uma ocupação militar efectiva do território entre Tejo e Douro. (...) Talvez a área tenha sido efectivamente dominada apenas no tempo de César” (ALARCÃO,1988, p.26).
O actual território português foi ainda palco das guerras civis que atingiram Roma no final do período republicano.
Foi o caso da guerra entre Mário e Sula, com impacto na Ibéria entre 83 aC. e 72 aC., relacionada com as acções de Sertório, partidário de Mário, à frente do exército lusitano.
A região de Torres Vedras não terá sido palco de qualquer episódio desse período.
Após a derrota de Sertório por Pompeio, este consegue pacíficar a Hispânia Citerior e toda a Celtibéria, enquanto Julio César, nomeado questor da Província da Hispânia Ulterior em 69 aC., e pretor da mesma província em 61 aC., província onde já se incluía a região torriense, pacifica os últimos focos de resistência lusitana, missão cumprida nesta última data, na campanha militar que percorreu a Serra da Estrela e o Norte do Douro, movimentando-se depois ao longo do Tejo, estabelecendo quartel em Santarém e travando, nessa ocasião, uma batalha numa ilha que muitos autores apontam como sendo Peniche e desenvolvendo a sua acção perto de Óbidos.
Regressando a Roma, aqueles dois militares envolvem-se numa segunda guerra civil, que se iniciou em 49 aC., na qual a Hispânia tomou o partido de Pompeio, o que obrigou Júlio César a regressar à Ibéria onde derrotou as tropas do filho de Pompeio, aliadas dos lusitanos, em 45 aC.
“O período das guerras civis entre César e os partidários de Pompeio parece ter sido, apesar dos combates e da insegurança, uma época decisiva para a romanização da Lusitânia. A necessidade de tropas conduziu seguramente à incorporação de Lusitanos nos exércitos romanos, particularmente nos dos Pompeios. Esta incorporação, nalguns casos acompanhada da concessão da cidadania a título individual, terá canalizado o belicismo atávico dos Lusitanos. A luta dos Lusitanos contra Romanos tornou-se, até certa medida, luta de Lusitanos associados a Romanos contra outros Romanos; nesta aliança, que as circunstâncias exigiam, se forjou uma convivência que terá contribuído para a quebra de antigos ódios” (ALARCÃO, 1988, p.27).
A conquista definitiva da Península Ibérica teve lugar em 19 aC., já durante o governo de Augusto.
Pese a prolongada guerra pelo domínio Ibérico, a região de Torres Vedras terá sido das primeiras a serem romanizadas:
“(...) o Algarve, as férteis planícies da Estremadura e Ribatejo e o Vale do Sado, onde as relações com o mediterrâneo foram intensas durante todo o primeiro milénio aC., tinham, à partida, melhores condições para adaptarem o modelo romano.
“No entanto, não é evidente que o território actualmente português, mesmo essas regiões, tenham entrado na órbita de Roma antes de meados do século I aC.
“Apenas na Estremadura portuguesa se podem encontrar alguns vestígios” de uma “romanização inconsciente” (ARRUDA, 1993, p.172).
Documentos coêvos, como a descrição das bodas de Viriato, ou os relatos da campanha de Décimo Junio Brutos, dão-nos informações sobre as relações amistosas entre os romanos e os indígenas deste território.
O facto de Décimo Brutus ter usado Olisipo (Lisboa) como base para as suas operações militares, fortificando-a, indicia que este território estava já, de algum modo, “romanizado”. Aliás, as facilidades que Brutus encontrou em 138 aC., na foz do Tejo, são sintomas de que esta região não era hostil às tropas romanas. “As mais antigas importações de produtos romanos (século II aC.) foram justamente detectadas nesta região” (ARRUDA, 1993, p.172).
Na sequência das Guerras Púnicas, que se iniciaram em 264 aC., opondo os cartagineses aos romanos pelo domínio comercial do mediterrâneo, os cartagineses, que então apenas tinham exercido um contrôle comercial sobre a Península Ibérica,, começam a ocupá-la territorialmente em 238 aC.
Em 210 aC., em plena “2ª Guerra Púnica” (218 – 201 aC. ), estavam estacionados dois exércitos Cartagineses no actual território português, um no Algarve e outro na foz do rio Tejo, este último comandado pelo famoso Asdrúbal, preparados par enfrentar o exército romano, comandado por Cneu Cipião, o qual, pela primeira vez, havia desembarcado na Península Ibérica em 218 aC., nas Ampúrias, a actual Catalunha. Desse confronto viria a resultar a expulsão definitiva dos cartagineses da península, com a tomada de Cádiz pelos romanos em 206 aC.
Contudo, a submissão da Ibéria aos romanos só se tornou definitiva em 19 aC., quer porque não fosse esse o plano inicial dos romanos, quer devido à forte oposição que tiveram de enfrentar por parte dos povos ibéricos .
Também o facto de, “nas férteis planícies da Costa Ocidental portuguesa (Estremadura e Ribatejo)” (ARRUDA, 1993, p.172), existirem vários núcleos urbanos (“oppidas”), que mantiveram relações comerciais amistosas com os romanos, com quem chegaram mesmo a estabelecer pactos de amizade, denota não ter havido desde logo qualquer plano de ocupação territorial pré delineado por parte dos romanos.
É só a partir de 194 aC. que os romanos iniciam a sua política expansionista na Ibéria, devido à necessidade de melhor defenderem o seu domínio sobre o Mediterrâneo.
Por essa altura, em 197 aC. dá-se a primeira divisão administrativa da Ibéria, com a criação da Província Ulterior (incluindo a actual Andaluzia) e Província Citerior ( grande parte do actual território espanhol e os Pirinéus), cujo governo foi entregue a dois pretores.
O actual território português não estava ainda incluído nos limites dessas províncias. Também os primeiros confrontos entre os romanos e as populações locais, os lusitanos, deram-se fora do nosso território, entre 194 A.C. e 178 A.C., ao longo do vale do Guadalquivir.
Só quando se dá a chamada “grande rebelião indígena”, entre 154 A.C. e 137 A.C., na qual os romanos tiveram de combater em duas frentes, uma contra os lusitanos, nas chamadas “Guerras Lusitanas”, comandados desde 147 A.C. por Viriato, outra contra os celtiberos, nas chamadas “Guerras Celtibéricas”, é que, talvez pela primeira vez, na frente lusitana, a guerra se estendeu à região portuguesa, ao Alentejo e ao Algarve.
O confronto entre romanos e lusitanos revela um profundo choque cultural: enquanto a “conquista, sustentada pelo imperialismo militar romano, procura terras para a cultura cerealífera, para a vinha e para a oliveira”, os lusitanos “desejavam manter extensos terrenos de pasto (...) necessários à transumância de inverno”. Tratava-se pois de um “choque entre uma economia agrícola latifundiária em expansão, com uma economia pastorial, comunitária, servida pela transumância” (RODRIGUES, ).
Durante este período, em 141 aC., Fábio Máximo Serviliano, o novo governador da província Ulterior, conquista para Roma parte das posições lusitanas na Andaluzia e ataca o Algarve e o Alentejo, chegando mesmo a atravessar o Tejo, talvez perto da região de Torres Vedras.
Conquistando várias cidades do sudoeste peninsular, os romanos obrigaram Viriato a aceitar a paz , interrompendo assim as “Guerras Lusitanas”.
Essa situação não implicava ainda uma ocupação permanente do Sul de Portugal pelo exército romano.
O novo governador de província, Servilio Cipião, rompeu a paz com os lusitanos em 139 aC., os quais, após o assassinato de Viriato, foram derrotados, combatendo também aquele governador os Galaicos e os Vetãos.
Em 138 aC., o governo da Ulterior foi entregue a Décimo Júnio Bruto e, desencadeando uma guerra contra os galaicos, fortifica Olisipo (Lisboa) e usa Moron (no distrito de Santarém), como base para as suas operações militares. Contudo, as “campanhas de Décimo Júnio Bruto não haviam conduzido, aparentemente, a uma ocupação militar efectiva do território entre Tejo e Douro. (...) Talvez a área tenha sido efectivamente dominada apenas no tempo de César” (ALARCÃO,1988, p.26).
O actual território português foi ainda palco das guerras civis que atingiram Roma no final do período republicano.
Foi o caso da guerra entre Mário e Sula, com impacto na Ibéria entre 83 aC. e 72 aC., relacionada com as acções de Sertório, partidário de Mário, à frente do exército lusitano.
A região de Torres Vedras não terá sido palco de qualquer episódio desse período.
Após a derrota de Sertório por Pompeio, este consegue pacíficar a Hispânia Citerior e toda a Celtibéria, enquanto Julio César, nomeado questor da Província da Hispânia Ulterior em 69 aC., e pretor da mesma província em 61 aC., província onde já se incluía a região torriense, pacifica os últimos focos de resistência lusitana, missão cumprida nesta última data, na campanha militar que percorreu a Serra da Estrela e o Norte do Douro, movimentando-se depois ao longo do Tejo, estabelecendo quartel em Santarém e travando, nessa ocasião, uma batalha numa ilha que muitos autores apontam como sendo Peniche e desenvolvendo a sua acção perto de Óbidos.
Regressando a Roma, aqueles dois militares envolvem-se numa segunda guerra civil, que se iniciou em 49 aC., na qual a Hispânia tomou o partido de Pompeio, o que obrigou Júlio César a regressar à Ibéria onde derrotou as tropas do filho de Pompeio, aliadas dos lusitanos, em 45 aC.
“O período das guerras civis entre César e os partidários de Pompeio parece ter sido, apesar dos combates e da insegurança, uma época decisiva para a romanização da Lusitânia. A necessidade de tropas conduziu seguramente à incorporação de Lusitanos nos exércitos romanos, particularmente nos dos Pompeios. Esta incorporação, nalguns casos acompanhada da concessão da cidadania a título individual, terá canalizado o belicismo atávico dos Lusitanos. A luta dos Lusitanos contra Romanos tornou-se, até certa medida, luta de Lusitanos associados a Romanos contra outros Romanos; nesta aliança, que as circunstâncias exigiam, se forjou uma convivência que terá contribuído para a quebra de antigos ódios” (ALARCÃO, 1988, p.27).
A conquista definitiva da Península Ibérica teve lugar em 19 aC., já durante o governo de Augusto.
Pese a prolongada guerra pelo domínio Ibérico, a região de Torres Vedras terá sido das primeiras a serem romanizadas:
“(...) o Algarve, as férteis planícies da Estremadura e Ribatejo e o Vale do Sado, onde as relações com o mediterrâneo foram intensas durante todo o primeiro milénio aC., tinham, à partida, melhores condições para adaptarem o modelo romano.
“No entanto, não é evidente que o território actualmente português, mesmo essas regiões, tenham entrado na órbita de Roma antes de meados do século I aC.
“Apenas na Estremadura portuguesa se podem encontrar alguns vestígios” de uma “romanização inconsciente” (ARRUDA, 1993, p.172).
Documentos coêvos, como a descrição das bodas de Viriato, ou os relatos da campanha de Décimo Junio Brutos, dão-nos informações sobre as relações amistosas entre os romanos e os indígenas deste território.
O facto de Décimo Brutus ter usado Olisipo (Lisboa) como base para as suas operações militares, fortificando-a, indicia que este território estava já, de algum modo, “romanizado”. Aliás, as facilidades que Brutus encontrou em 138 aC., na foz do Tejo, são sintomas de que esta região não era hostil às tropas romanas. “As mais antigas importações de produtos romanos (século II aC.) foram justamente detectadas nesta região” (ARRUDA, 1993, p.172).
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