sexta-feira, 22 de maio de 2009

Torres Vedras e o Dia Mundial da Biodiversidade

Hoje é o Dia Mundial da Biodiversidade.
Será possível, num meio densamente povoado, como o é o Concelho de Torres Vedras, sujeito a muitas pressões sobre o seu ambiente natural, falar-se em biodiversidade?.
Fomos à procura de algumas referências, no nosso património histórico-cultural, a “nichos” de biodiversidade ainda existentes.
Não procuramos ser exaustivos, e exploramos mais a perspectiva histórico-patrimonial desse roteiro do que a perspectiva biológica, até porque esta é uma área que não dominamos.
A intenção é apenas alertar para zonas naturais a preservar e a respeitar.

ARRIBAS DE Stª CRUZ
Da prais da Amoeira à praia do Seixo, é visível a variedade de formações geológicas das arribas de Stª Cruz, em frente às quais se espraiam extensos areais. Destacam-se entre elas o Penedo do Guincho com os seus 30 metros de altura.
Na velha aldeia de pescadores, sargaceiros e moleiros, ainda são visíveis alguns traços do seu velho património, como a Ermida de Stª Helena, ou a mal reconstruída Azenha.
Ao longo das arribas e das dunas, principalmente a norte, foram descobertos vestígios arqueológicos de várias épocas.

PRAIA AZUL
Neste sítio desagua o Rio Sizandro. Em épocas recuadas, no século XIII, existiu próximo deste lugar a povoação de Rendide, talvez com origem em colonizadores germânicos do tempo da reconquista, que exploravam as ricas margens agrícolas do Sizandro.
A Praia Azul faz parte da Reserva Ecológica Nacional, integrando igualmente a Rede Natura 2000, uma rede ecológica de âmbito europeu.
Um dos motivos que mais contribuiu para a importante classificação deste lugar está relacionado com o seu sistema dunar, conservando um habitat característico que é necessário preservar.

MATA DO CONVENTO DO VARATOJO
“A cerca do Convento é espaçosa, e comprehende uma boa mata, horta, e vinha povoada de muitas arvores das milhores castas de peras, maças, ameixas, ginjas, e pêcegos, e tambem comprehende diversos taboleiros de pomares d’espinho, sendo bastante conhecidas, e estimadas as limas, que d’elles se colhem” (P. Manoel Agostinho Madeira Torres, Descripção Historica (...) de Torres Vedras, 2ª ed., Coimbra, 1862, p.139)
Nela existem duas capelinhas, uma no sítio do primitivo forno de cal, que funcionou para a construção do convento no século XV, a gruta do “Ecce Homo”, forrada a azulejos, e a primitiva capela da Senhora do Sobreiro, adornada com quatro pequenos painéis que figuram monges em estudo e em contemplação, onde, segundo a lenda, foi descoberta a Imagem de Maria Santíssima com o menino, na cavidade de um centenário sobreiro, escondida aí desde o tempo de D. Afonso Henriques, para escapar á perseguição dos mouros.
“Reconhece-se que não foi plantada esta matazinha, mas fôra um pedaço de monte, cujo mato e arbustos cresceram á mercê da sua natureza, formaram selva, mais ao diante aproveitada para uso dos animais domésticos do primeiro colono, que na encosta daquele monte arroteou e semeou; e mais tarde transformada em recreio do primeiro senhor que ali instituiu Quinta para sua morada” (Frei Bartolomeu Ribeiro, “Os Franciscanos em Torres Vedras”, in Badaladas, 1953e 1954, ed. Fac-similada).
Comprava-se aqui a antiguidade desta mata, muito provavelmente originária da flora que dominava a região desde a época medieval, uma cápsula do tempo que chegou quase intacta aos nossos dias.

MATA DA QUINTA DAS LAPAS
Um dos passeios mais agradáveis que se pode fazer nesta Quinta é à sua grande mata, cortada em várias direcções por ruas largas, arborizada no início do século XIX com ulmeiros, pinheiros mansos, medronheiros e sobreiros. De entre estes destaca-se o chamado “sobreiro das quatro irmãs”, porque o seu tronco rente ao chão se divide em quatro de grande grossura e altura.
Existem aí, desde longa data, veados e outra fauna selvagem.
À entrada da mata existe a Ermida de Santa Maria Madalena, construída pelo último marquês de Penalva para substituir uma outra mais antiga aí existente, destruída pelos franceses em 1808.
No interior da mata existe uma capela incompleta dedicada a Santo André Avelino, mandada construir em 1778 pelo conde de Tarouca Fernando Telles da Silva
No jardim e na mata existem várias fontes, destacando-se a do “Frei João”, a do “Veado”, esta com uma curiosa escultura em mármore de dois galgos segurando um veado pelas orelhas, a da “Água férrea” e a do “Leão”.

MATA DE RUNA
Obra da iniciativa da princesa D. Maria Francisca Benedita que, em 1790, comprou a Quinta de Alcobaça, junto àquele lugar, com o objecivo de aí fundar um Hospital Real de Inválidos Militares, cuja construção foi concluída em 1827.
O edifício é de estilo neoclássico da autoria do arquitecto de José da Costa e Silva.
Possui uma capela com cúpula monumental, revestida com mármore de Carrara.
No seu museu de arte sacra, entre outras peças de interesse, existe a celebre custódia da princesa, revestida com pedras preciosas do Brasil.
No seu exterior existe um extenso jardim com uma flora variada e variadas esp~ecies de aves.
Destaca-se o seu cedro com cerca de duzentos anos, um dos maiores e mais antigos do mundo.

TERMAS DOS CUCOS
Foram inauguradas em15 de Maio de 1893, mas datam do século XVIII as primeiras referências conhecidas às qualidades terapêuticas das suas águas.
Deve-se à iniciativa do seu proprietário de então, José Gonçalves Dias Neiva, as obras de valorização desta estância termal iniciadas em 26 de Novembro de 1890.
António Jorge Freire foi encarregue de elaborar o plano que incluia 40 moradias. O Casino foi construído em 1896 .
Das 40 moradias previstas, apenas se concluíram duas vivendas:"D. Feliciana" (1895) e "D.Maria"(1896).
À sua volta situa-se uma das mais extensas, variadas e ricas zonas naturais da cidade de Torres Vedras, infelizmente mal tratada e em risco de se perder na voragem do crescimento urbano e viário.

CHOUPAL
As primeiras árvores implantadas nas proximidades do sítio do Choupal eram anteriores a 1789. Aí jantou o príncipe regente, o futuro D. João IV, em 1806, quando regressava de uma viagem a Peniche.Para a construção das Linhas de Torres tiveram de ser cortadas as suas árvores, sendo replantadas em 1814.
Em 1926 aí se realizou a 1ª Exposição Agrícola, Pecuária e Industrial de Torres Vedras.
O seu êxito fez nascer a ideia de aí instalar um parque aprazível, que acabou por se inaugurar na década de 30 com a forma actual. Encontra-se em processo de requalificação, no âmbito do Programa POLIS.
Possui um arvoredo antigo e variado.

PARQUE VERDE DA VÁRZEA
Foi oficialmente inaugurado em 23 de Abril de 2004 .
Com uma extensão de 9 hectares, foi rapidamente adoptado pela população de Torres Vedras, preenchendo uma lacuna sentida há longos anos.
São muitas as actividades que nesse parque se realizam ao longo do ano, sendo de destacar as acções realizadas pelo Centro de Educação Ambiental aí instalado e a existência de um parque infantil.
Projectaram este espaço os arquitectos paisagistas Miguel Velho da Palma e Eduardo Tomás.
Embora artificial, este parque e o seu ribeiro permitem o regresso de uma fauna, que, devido à poluição do Rio Sizandro, estava praticamente extinta, como os sapos e várias espécies de insectos e aves.

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